sábado, 16 de setembro de 2017

Dica de leitura: Tudo começou assim: meu primeiro parto

"Para quem me lê por aqui entender um pouco mais da minha história em relação aos partos e porque me apaixonei pelo assunto… A partir de hoje, vou colocar, de forma resumida, meus relatos de parto, começando pela Isadora, há 10 anos… Para quem não sabe, relatos de parto são formas que nós, apaixonadas pelo ato de dar à luz, encontramos de contar a nossa experiência e, com isso, olhar nossa própria história e contribuir, de alguma forma, com a história de outras mulheres." Continue lendo.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O Renascimento do Parto - O Filme TRAILER OFICIAL

Meu pai não estava doente, só estava idoso. Ele não morreu, foi assassinado

"Quando eu perder a capacidade de indignar-me ante a hipocrisia e as injustiças deste mundo, enterre-me: por certo que já estou morto." Augusto Branco


Acordo no dia seguinte com um forte sentimento de indignação e impotência pela injustiça e impunidade deste país sem lei. A pergunta é: a quem devo processar, o hospital, o Estado do Espírito Santo, o Ministério da Saúde? Ou melhor, adianta processar? Vai mudar alguma coisa neste país injusto e idiota ou será só mais um processo dentre tantos milhares que já existem?

Meu pai estava idoso, sim, tentávamos nos preparar para sua partida, porque a morte faz parte da vida. Mas ele não teve direito a uma morte digna e era só isso que eu pedia. Meu pai não estava doente, só estava idoso. Ele não morreu, foi assassinado, foi vítima da incompetência, abuso de poder e ganância do sistema de saúde neste país sem lei.

Meu pai caiu, fraturou o fêmur e foi internado em um hospital no Estado do Espírito Santo, e ficou esperando por uma cirurgia que nunca houve e nem haveria, porque era nítida a enrolação de todos os ortopedistas, ninguém queria operá-lo. Mas não nos informaram nada disso. E o descaso e incompetência dos médicos o levaram a uma pneumonia e derrame pleural e ele foi morrendo um pouco a cada dia.

Não nos deram opções, não nos deram alternativas, e quando alguém cogitou a possibilidade de levá-lo para casa sem ter feito cirurgia, o sistema e lavagem cerebral venceram e ele foi mantido naquele lugar de tortura e não de cura.

E ainda foi vítima do abuso de poder de uma administração burra, todos formados na idiocracia, porque seus direitos garantidos por lei não foram respeitados. O que dizer de um administrador que decreta uma norma impossível de ser cumprida? Um completo idiota.

Foram tantos os problemas e abusos, ainda vou sentar e fazer um diário completo de tudo o que passamos dentro daquele inferno de hospital, nas mãos de "profissionais" robotizados, idiotas e desumanos. Exames que não foram feitos, sangue que prescreveram e que nunca chegou, remédios que não chegavam no horário e enfermeiras que me chamaram de mentirosa quando ia reclamar do remédio que não veio e que deveria ter vindo há três horas. Fisioterapeuta que "apareceu" uma semana depois de internação, por conta própria, porque ela saiu procurando idosos na ortopedia e "encontrou" o meu pai, mas quando ela vinha só ficava cinco minutos e isso não acontecia todos os dias. P.S.: E a fisioterapeuta mandou colocar um colchão d'água para ele, mas o colchão veio com defeito e ficou vazando água a noite inteira e a pessoa que estava de acompanhante à noite não encontrou enfermeiros no setor para pedir ajuda, e ainda foi acusada de mentir. E de manhã, quando cheguei, tive que pedir três vezes para tirarem o colchão, porque meu pai havia passado a noite toda com as costas na cama molhada, e só fui atendida na terceira vez, três horas depois que cheguei, porque fiz barraco. Médicos que não liam o prontuário, chegavam para a visita perguntando o que houve e o acompanhante tinha que contar toda a história de novo, e na visita seguinte o mesmo médico ainda não sabia que meu pai havia fraturado o fêmur e perguntava o que houve. Médico que não lembrava do que falara na visita anterior, dizia que iam mudar um medicamento, mas não anotava, e depois na prescrição a enfermeira diz que ele retirou dois medicamentos, mas para mim ele disse que seria apenas um. Na outra visita ele não comenta nada sobre isso e depois a enfermeira traz um dos medicamentos que havia sido retirado. Uma bagunça. Esses são só alguns exemplos, as histórias são tantas, dariam quase um livro.

Não, não faltavam médicos ou enfermeiros, bastava chegar no posto de enfermagem na hora das novelas para encontrar três ou cinco enfermeiros olhando fixamente para a TV, concentrados no enredo. Não faltava material, aliás, havia material sobrando e o que vi ali dentro nos 17 dias que fiquei de acompanhante foi um grande desperdício do dinheiro dos nossos impostos.

Eu briguei, esperneei, reclamei com o diretor do hospital, mas nada adiantou, nada. Passei a ser odiada por todos de tanto que eu briguei pelos direitos do meu pai. Cansada, fragilizada, quase surtando, antes que voasse no pescoço de uma enfermeira, vim embora, não suportava mais aquilo tudo, fui além das minhas forças e ainda fui criticada por brigar por dignidade para um ser humano.

Eu sei que esses não são problemas somente daquele hospital, já relatei sobre a violência em hospitais aqui. Mas esse foi o último hospital e um dos piores, com certeza.

Perder meu pai não foi o problema, apenas a morte faz parte da vida, como disse a mãe de Forrest Gump. Lógico que sempre ficaremos tristes e teremos luto, mas o tempo vai diminuindo essa dor. O problema é me sentir violentada e não ter a quem recorrer, não ter com quem reclamar, não ter alguém que lute pelos nossos direitos garantidos por lei neste país sem lei, é estar indignada e me sentir impotente.

Por enquanto só me resta repetir o que escrevi no Facebook quando ainda estava "internada" com meu pai no hospital assassino: "Novamente enfrentando violência no sistema de saúde com meu pai internado com fratura de fêmur e odeio cada dia mais médicos e enfermeiros, e odeio mais ainda administradores de hospital com suas normas burras e absurdas, ou seja, odeio os "cerumanos" (Perdão aos pouquíssimos seres humanos da área)." E repetir também que "pelo menos no corredor da morte o condenado tem direito de escolher a última refeição."

E agora ainda tenho que conviver com a culpa por não ter enfrentado o mundo todo e ter dado ao meu pai um final digno, comendo angu e jiló, cercado por seus familiares. Vou ter que aprender a conviver com isso. Cuidei dele por tanto tempo e no final, vacilei feio.


Extraído de "Asterix entre os pictos"

P.S.: Comentários do Facebook

Eu, heim, gente, todo mundo vivendo o mesmo drama???? Epidemia????? Que levante a mão quem não sofreu violência. Vamos mover uma ação coletiva???????????? Ou vamos embora desta porcaria de país????????? Eu estou mais na segunda opção. Vejam os comentários postados no meu perfil do Facebook:

"Disse tudo, o que você passou, infelizmente continuo enfrentando com meu avô. O descaso é claro, pergunto algo ao médico e ao invés de me responder, ele ri. Eu não aguento mais isso."

"Eu concordo com você, aconteceu com meu pai, tinha dinheiro suficiente para ficar nos melhores hospitais, mas a ganância de um certo irmão abreviou a morte dele. E isso me consome até hoje. Então, "ele" colocou meu pai num hospital carniceiro depois que ele sofreu uma queda, tiramos de lá mas com uma escara terrível nas costas e mesmo colocando num hospital melhorzinho já era tarde demais."

"Entendo sua indignação. Passei o mesmo com os meus avós no hospital assassino!!!! Tenho o mesmo questionamento: a quem processar ????"

"Há 2 anos perdi minha mãe nesse sistema ridículo, por um erro médico, não viram que minha mãe estava com trombose e demorou um mês pra ser transferida e quando foi não adiantava mais nada a não ser amputar a perna. Depois ficou no descaso da saúde pública, sofreu duas semanas, não suportou, e Deus levou. Lembro muito bem como se fosse hoje ela falando que não queria mais ficar neste mundo. Os assassinos do hospital Salgado Filho estão lá trabalhando, revindicando salários, aff, cansa. Isso cansa mesmo. Meus sentimentos, que sei como é isso. O Brasil de poderes."

"Eu também perdi minha irmã por descuido médico. Choque anafilático durante uma tomografia. Eu sei o que você está sentindo."

"Revoltante! Passamos por dias e situações muito difíceis com o nosso filho mais velho por duas vezes internado em um hospital particular. Me senti tão revoltada e impotente quanto você. Até comida estragada eles nos serviram... A auxiliar de cozinha fazia ânsia de vômito enquanto preparava os pratos. Os curativos do meu filho ficaram no chão ao lado do leito da UTI por 3 dias!!!! As refeições não chegavam no horário, muito menos os antibióticos. Fotografamos algumas coisas, procuramos um advogado que de cara classificou nosso caso como "perdido". Guardei tudo numa pasta, chorei muuuuuuuuito e não quis mais falar sobre o assunto. Falar sobre isso me adoece!"

"Eu entendo bem o que você passou, aqui também tem um pouquinho isto, mas não quando eles veem que o idoso tem alguém. Não se culpe, você não tem culpa. Eu entendo o que você está passando, eu muitas vezes aqui tenho que lutar contra moinhos, que nem D Quixote, cuido de minha mãe sozinha, e D`us. Às vezes acho que vou sucumbir, mas D`us me dá forcas, pra lutar contra tudo e contra todos... Só Ele sabe o que passamos e não é fácil. Volta e meia adoeço por conta disto. Por sentir esta impotência, daí eu choro no travesseiro e entrego a D`us, e o que me resta é confiar nEle. Todos os dias mato um leão... Já salvei minha mãe da morte várias vezes... Eu também quero que quando ela partir, parta com dignidade. Eu Te entendo e entendo sua revolta. Oremos pra D`us te dar o consolo amada. Beijos."

"Triste, muito triste! NÃO QUERO perder NUNCA a sensibilidade e a capacidade de indignar-me ante relatos como estes.... Não se culpe amiga, todos temos um limite e o seu foi a uma exaustão diante de tanto descaso! Faça de sua indignação uma voz aos "mudos"! Denuncie, sim! Pois uma transformação para o bem, que aconteça , por menor que pareça, pode livrar alguns de violências tão cruéis. Beijos."

"Não adianta tanto avanço tecnológico se o ser humano não é valorizado. Infelizmente problemas como esse ocorrem no SUS e também no particular, e além de enfrentarmos o desgaste da doença, temos o desgaste da luta por um tratamento digno para nossos familiares. Isso tem que mudar...Vocês fizeram o possível, o sistema é que é falho. Deus de força a toda família."


P.S.2: "Meu nome é Maximus Decimus Meridius, comandante dos exércitos do norte, general das Legiões Felix... servo leal do verdadeiro Imperador, Marcus Aurelius. Pai de um filho assassinado, marido de uma esposa assassinada. E terei minha vingança, nesta vida ou na próxima."

 

Violência obstétrica - A voz das brasileiras!

Violência obstétrica - A voz das brasileiras! ou Violência no sistema de saúde no Brasil - A voz dos pacientes!

Estou novamente passando mal com um assunto, como aconteceu quando comecei a pesquisar e escrever sobre misoginia. E como escrevi naquela época, vou repetir minhas palavras, porque é assim que estou me sentindo hoje:

"Quanto mais mergulho na pesquisa e medito no assunto, mais me dá vontade de bater muito em um saco de areia – para não bater nos desumanos que conheci. Estou irada! Meu estômago está revirado, minhas entranhas se contorcendo, um frio intenso na barriga, ansiedade, insônia, porque, a mente não para de pensar, pensar, pensar, enfim, meus sintomas de assunto-bomba e de revelações chegando aos montes. Sinto que vou explodir."

O assunto agora é esse do título e começou quando assisti ao vídeo Violência obstétrica - A voz das brasileiras! e ao trailer do filme O renascimento do parto. E depois de quase surtar, comecei a ler sobre o assunto, e quanto mais eu leio, mais indignada vou ficando.

Hoje acordei como se estivesse de ressaca, como se um trator tivesse me atropelado ontem, como se tivesse levado vários socos na boca do estômago. Estou muito indignada, irada, com vontade de gritar, de bater em alguém, sufocada.

Diferente do assunto misoginia, desta vez a indignação é pessoal, não porque tenha sido vítima da violência obstétrica, pois não tenho filhos, mas porque somos todos vítimas da violência médica, por isso coloquei um "ou" e aumentei o título do post. E como escrevi no Facebook, "peço perdão aos bons profissionais da saúde (conheci pouquíssimos), mas acompanhando meu pai em vários hospitais, várias cirurgias [catarata nos dois olhos, prótese no joelho, duas cirurgias por causa da fratura do fêmur, e ainda houve um AVC], inúmeras consultas, sendo acompanhante de outros dois idosos em um hospital, e acompanhando um pós-parto, me sinto como essas mulheres do documentário e até hoje tenho gritos presos na garganta. Sei que a dor delas é muito maior, nem posso comparar, mas senti na pele como é ser tratado como lixo dentro dos hospitais e consultórios médicos."

Tenho tantas histórias de desumanidade que sofri e vi nos hospitais, públicos e particulares, que poderia gravar um documentário parecido. E tenho certeza de que levaria uns 50 anos para gravar depoimentos de pessoas que sofreram violência médica no sistema de saúde no Brasil. Quem não tem uma história para contar que levante a mão.

Como recordar é viver, estou revivendo toda a humilhação, toda a indignação, toda ira, toda revolta, toda incredulidade, toda violência que vivi nesses hospitais e consultórios. Cada depoimento que ouvia me fazia reviver tudo que passei com médicos, enfermeiros e recepcionistas desumanos, que gritaram comigo, que não deram informação correta, que não ensinaram nada, que praticamente me disseram "se vira", que me trataram como uma idiota, que me roubaram vários direitos, que trataram meu pai com crueldade, que pegaram o bebê que havia acabado de nascer como se pega um cachorrinho, pelo pescoço, sem nenhuma delicadeza (aliás, devem tratar muito melhor seus cachorrinhos e bichinhos de estimação). Estou revivendo a humilhação de um assédio sexual que sofri em um consultório de dermatologia, e também estou revivendo a agressão de me sentir cobaia nos tratamentos de rinite alérgica e ainda ter sido forçada a fazer infiltração no nariz sem saber antes o que iria acontecer e quando percebi havia uma agulha sendo enfiada nas minhas narinas e uma injeção sendo aplicada em cada uma e nem quero descrever o que senti naquele momento. E esses dois casos aconteceram na rede particular, quando eu tinha um dos melhores planos de saúde da época.

E como reviver pode trazer cura interior, espero que eu esteja purgando todas essas dores e gritos sufocados com a ajuda de outras pessoas que sofreram muito mais do que eu, ouvindo o depoimento delas, sentindo a dor delas, chorando com elas. Que venha a cura, enfim. Tá doendo, mas que seja para ser curada.

E novamente vejo o padrão acontecendo, as pessoas sofrem essas coisas e pensam que é só com elas, e de repente alguém se atreve a falar, a denunciar, e aí começamos a perceber que não, não foi só comigo, tem muuuuuuuita gente sofrendo como eu, mais do que eu, é muita dor, é muita dor.

Assistam aos vídeos, se tiverem coragem.